quarta-feira, 5 de março de 2014

ela tem dezoito

Os olhos dela ensinam estrelas a brilhar, vai doer. Os braços dela ensinam ondas a quebrar, vai doer, vai doer, mas depois vai passar, rosa. Vai você que eu não tardo em chegar, rosa
Ela queria se sentir livre e sentir a imensidão do mundo. Ria com pena de si mesmo ao lembrar-se que antigamente pensava que no seu aniversário de dezoito anos ia se libertar das correntes do mundo e voar. Ela já tem dezoito. Um dia ela resolveu sumir. Sumiu porque queria ver como é que o mundo giraria sem ela, afinal, já tinha dezoito e podia sumir se assim lhe apetecesse. Escondeu-se, desapareceu. Deixou todas as coisas e com a roupa do corpo, algum dinheiro no bolso, saiu por ai. Foi lá no alto. Ela desapareceu para procurar a si mesmo, e procurar que sempre foi transitivo direto, e que agora desconhecia qualquer complemento e isso, meu amigo, não era a única coisa que não fazia sentido por aqui. Ela sumiu e descobriu que mesmo sem ela, mesmo sem sua vontade, o mundo continuaria girando. Ela sumiu para se descobrir, afinal já tinha dezoito. E só agora, depois de tanto tempo, depois de um dia horrível e uma noite sem dormir, viu que se esconder e sumir não era liberdade mas apenas uma pior forma de prisão. Ela viu que seu mundo, o mundo dela, esse nunca tinha saído do lugar. E agora não podia mais esperar para ver seu mundo girar. Enfim, ela tem dezoito.