Os olhos
dela ensinam estrelas a brilhar, vai doer. Os
braços dela ensinam ondas a quebrar, vai
doer, vai doer, mas depois vai passar, rosa. Vai você
que eu não tardo em chegar, rosa
Ela
queria se sentir livre e sentir a imensidão do mundo. Ria com pena de si mesmo
ao lembrar-se que antigamente pensava que no seu aniversário de dezoito anos ia
se libertar das correntes do mundo e voar. Ela já tem dezoito. Um dia ela
resolveu sumir. Sumiu porque queria ver como é que o mundo giraria sem ela, afinal,
já tinha dezoito e podia sumir se assim lhe apetecesse. Escondeu-se, desapareceu.
Deixou todas as coisas e com a roupa do corpo, algum dinheiro no bolso, saiu
por ai. Foi lá no alto. Ela desapareceu para procurar a si mesmo, e procurar que
sempre foi transitivo direto, e que agora desconhecia qualquer complemento e isso, meu amigo, não era a única coisa
que não fazia sentido por aqui. Ela sumiu e descobriu que mesmo sem ela, mesmo
sem sua vontade, o mundo continuaria girando. Ela sumiu para se descobrir,
afinal já tinha dezoito. E só agora, depois de tanto tempo, depois de um dia
horrível e uma noite sem dormir, viu que se esconder e sumir não era liberdade
mas apenas uma pior forma de prisão. Ela viu que seu mundo, o mundo dela, esse
nunca tinha saído do lugar. E agora não podia mais esperar para ver seu mundo
girar. Enfim, ela tem dezoito.